terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A MULHER SELVAGEM E A MATERNIDADE


De Laura Gutman, em
“A maternidade e o encontro com a própria sombra”

“O selvagem torna todas as mulheres saudáveis. Sem o lado selvagem, a psicologia feminina fica desprovida de sentido.(...)

O ato de parir, ou o simples domínio de saber que se é capaz de trazer um ser à vida, cria uma força imensa, que catapulta as mulheres para uma dimensão divina. E, extasiadas diante do milagre, tentando reconhecer que fomos nós mesmas que o tornamos possível nos direcionamos ao que é sublime. É uma experiência mística se nos permitirmos que assim seja. Voltando para o lado primitivo, nada mais animal e selvagem do que o parto em si e tudo que isso envolve. A sensação, a dor, cuidar da cria... (...) A lactação é a continuação e o desenvolvimento de nossos aspectos mais terrenos, selvagens, diretos, filogenéticos. Para dar de mamar, as mulheres deveriam passar quase todo o tempo nuas, sem largar sua cria, imersas em um tempo fora do tempo, sem intelecto nem elaboração de pensamentos, sem a necessidade de se defender de nada nem de ninguém, mas tão somente abstraídas em um espaço imaginário e invisível aos demais. Dar de mamar é isso. É deixar aflorar nossos recantos mais ancestralmente esquecidos ou negados, nossos instintos animais que surgem sem que imaginemos que estavam aninhados em nosso âmago. Dar de mamar é se despojar das mentiras que nos contamos durante toda a vida sobre quem somos ou deveríamos ser. É estarmos soltas, poderosas, famintas, como lobas, leoas, tigresas, cangurus ou gatas. Muito semelhante às mamíferas de outras espécies em seu total apego pelas crias, ignorando o resto da comunidade, mas atentas, milimetricamente, às necessidades do recém-nascido. Isto é tudo que se necessita para poder amamentar um filho. Nem métodos, nem horários, nem conselhos, nem relógios, nem cursos. (...) Apenas permissão para ser o que queremos, fazer o que queremos e nos deixar levar pela loucura do selvagem.”

Abraço de Luz!

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